Convidei a Fernanda para compartilhar sua provocação sobre onde estão as mulheres nos MBAs internacionais. Neste postnão há respostas. Pelo contrário, há um questionamento. Ainda que no Brasil as mulheres são a maioria nas pós-graduações, isso não se reflete nos cursos internacionais. Por que? E o que podemos fazer a respeito disso?
Fernanda fala ainda sobre o que ganhou ao estudar em Stanford e coloca um canal aberto para comunicação.
Quem sabe pensando juntos não conseguimos transformar essa situação?
As percepções da Fernanda, pela Fernanda:
Faz tempo que fazer um MBA no exterior é um diferencial na carreira e uma vontade grande entre os profissionais brasileiros. Executivos conhecidos como Carlos Brito (Stanford, 1989), Alexandre Behring (Harvard, 1995) ou Claudia Sender (Harvard, 2002) trilharam este caminho. Não por menos, um MBA abre portas e é uma experiência inesquecível para a maioria dos alunos que passaram por ele. Até aí, nada de novo.
A novidade para mim foi entrar no MBA e descobrir uma escassez de brasileiras. Na minha turma havia apenas duas mulheres entre dez brasileiros. Não parece ter sido exceção, ao buscar dados das turmas dos últimos cinco anos tanto de Stanford quanto Harvard descobri que a realidade não é muito diferente. Nos últimos 5 anos somente 1/4 a 1/3 das turmas é representado por mulheres. Durante este mesmo período a média de mulheres em Harvard é de 42% e em Stanford é de 41%, ou seja, estamos sub-representadas.
ANO STANFORD HARVARD 2019 30% 31% 2018 14% 50% 2017 20% 25% 2016 22% 31% 2015 33% 35% Média Ponderada 30% 35% Será que não há mulheres suficientemente qualificadas?
De acordo com o PNAD, dentro do mercado de trabalho há mais mulheres com grau superior (18%) do que homens (11%). Apesar do viés de engenheiros buscando MBAs no Brasil, para as turmas de 2019, 64% dos alunos de Harvard e 71% dos alunos de Stanford tem ensino superior nas áreas de humanas, onde as brasileiras, geralmente, são bem representadas. Nas turmas entrando nas grandes empresas de consultoria também costuma-se ter maior representação feminina.
Concluo então que as brasileiras não estão se candidatando para MBAs no exterior. Uma hipótese é que estejam em relacionamentos sérios, difíceis de manter à distância, outra é que faltam mentores em seus ambientes de trabalho, é possível também que não achem que consigam entrar, a verdade é que não sei.
Sei por experiência própria o quanto aprendi durante esses dois anos e o quanto essa experiência valeu a pena. Vejo hoje, por exemplo, com muito mais clareza o preconceito e a falta de diversidade em empresas no Brasil que antes eu achava normal. Reflito também nos muitos maus exemplos de liderança que vivi e agradeço pela sorte em encontrar um grande mentor sem o qual jamais teria entrado em Stanford. Mesmo nos EUA, me deparo com viés inconsciente que acontece nos processos de contratação e, após o MBA, consigo não só percebê-lo mas sinto me equiparada para lidar com a situação.
Mas cada pessoa tem sua história e seu caminho. Gostaria de ouvir a sua. Sinto curiosidade por entender melhor as dúvidas e motivações de outras mulheres que estão pensando em um MBA no exterior. Se tiver um tempinho, escreva-me, adoraria ouvir de você.
Fernanda Cruz é formada em administração pública pela EAESP – FGV com seu MBA em Stanford (2017).
Apaixonada por viagens, comida e natureza, trabalha em uma startup de alimentos orgânicos na Califórnia.
Quer falar comigo? Entre em contato através do e-mail paula@paulabraga.com.br.
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