Quando falam de Harvard, você pensa em que?

Estudos de caso? Alunos sisudos, “almofadinhas”? gênios? Um sonho distante?

Para a maioria das pessoas essas são sim algumas imagens comuns associadas à faculdade. Trata-se de um clichê. Porém, como em qualquer clichê (inclusive essa frase), geralmente há um fundo de verdade.

Harvard é inegavelmente um dos principais centros de excelência de ensino no mundo. Com 110 anos desde sua criação, é sim uma instituição reconhecida pela tradição. E, a escola tem sim sua cota desproporcional de alunos brilhantes. Com apenas 11% de taxa de aceitação em seu MBA, ter uma cadeira cativa é um feito para poucos.

O que faz uma pessoa entrar lá?

O que torna a faculdade tão especial?

Quais são algumas coisas que você não imagina sobre a faculdade?

Em vez de falar sobre as características genéricas que a diferenciam – que vocês podem facilmente encontrar no site institucional – resolvi conversar com uma atual aluna de lá para nos contar a sua visão pessoal. Minha intenção é que a partir da história de Laura, vocês tenham um olhar um pouco mais próximo do que é Harvard e que saiam com algumas dicas como fazer para entrar lá. Trata-se de uma entrevista longa, pois foquei em passar para vocês a maior quantidade de detalhes possível, ajudando-os sentir o gostinho de como seria estar lá. Espero que gostem.

Então, sem mais delongas, conheçam Laura Oller.

Paula Braga: Laura, conte um pouco sobre você.

Laura Oller: Bom, meu nome é Laura, 29 anos, estou cursando o programa conjunto de MBA na Harvard Business School com mestrado em políticas públicas (MPP) na Harvard Kennedy School.

PB: Explica para gente o que é esse programa.

LO: Trata- se de um programa onde consegue-se um duplo diploma: Mestre em Políticas públicas pela Kennedy School e MBA por Harvard.

PB: E como você veio a escolher essa escola?

LO: Sempre soube que eu queria um duplo diploma com a Kennedy, então prestei varias faculdades que ofereciam essa possiblidade, como Wharton, Standford e MIT.

PB: Uau, excelentes escolas…Conta para gente…quanto você tirou no GMAT?

LO: 720

PB: Uma excelente nota.

LO: É engraçado, mas estando lá, essa não é bem vista como uma excelente nota e sim uma nota padrão. A gente acaba conhecendo muita gente que tira 750, 780. Mas ao mesmo tempo conheci umas pessoas que tiraram 780 e não passaram em HBS. Outras que passaram com 690. O que eu tiro disso é que temos que confiar no processo. Houve algumas escolas que eu achava que tinha um bom fitmas nem fui chamada para entrevista e para HBS, que a princípio eu achava que não era para mim, fui aprovada. Acredito que o pessoal de admissionstem alguma sabedoria em como fazer essas escolhas pois vejo que no final, os alunos sempre saem satisfeitos com as universidades que cursaram, mesmo que não fossem sua favorita no início do processo.

PB: E por que você gostou de Harvard especificamente?

LO: Harvard tinha um programa conjunto de mestrado em políticas públicas e MBA bastante especial. É de fato um programa integrado. No ano que cursei Kennedy havia uma matéria com um professor de HBS, em que explorávamos a perspectiva de negócios sobre assuntos de políticas públicas que discutíamos nas aulas na Kennedy. E no ano em que cursei HBS, havia uma professora da Kennedy que nos ajudava a explorar a perspectiva pública sobre matérias de business. O terceiro ano são só para eletivas. Ao longo dos 3 anos desse curso, uma turma de 27 alunos fazendo o mesmo duplo programa fica sempre junta, o que torna nossas relações muito próximas.

PB: Que interessante…essa proximidade com seus colegas que você relata é diferente do que imaginamos quando sabemos que todo ano entram 900 pessoas no MBA.

LO: Sim, é verdade, a convivência com as pessoas desse programa é muito próxima. Porém, mesmo dentro de HBS, existe uma sensação de proximidade por causa das sections. São 10 turmas de 90 alunos cada. Como o primeiro ano é igual para todos (por causa do currículo base obrigatório), você acaba ficando próximo desses 90 alunos também.

PB: Por que você acha que passou lá?

LO: Excelente pergunta. Não tenho ideia! Na verdade, quase todo mundo lá tem uma “síndrome de impostor”, acham que foi um erro ter sido aceito em uma faculdade tão prestigiosa. Mas, olhando para trás, acredito que HBS valoriza pessoas autênticas. Quanto mais autêntico você for, mais demonstrar coerência nas suas escolhas, mais tiver paixão por uma causa ou um setor (independente de ser indústria de luxo, óleo e gás, consultoria), maior a sua chance. O que eu vejo é que eles buscam pessoas com um fio condutor nas escolhas, mesmo que tenham mudado de áreas e indústrias. Pessoas que são altamente interessadas por um assunto e, que consequentemente, poderão fortemente contribuir nas aulas sobre ele. Eu vejo que as pessoas que estão em Harvard gostam muito do que estão fazendo e conseguem ter um olhar crítico que conecta todas experiências com algo maior. No fim das contas, são pessoas do bem, generosas, interessantes, comprometidas, buscando algo maior.

PB: E como isso se traduziu em termos de seus essays?

LO: No caso da Kennedy, eu podia escolher entre um sucesso ou um fracasso. Escolhi falar de um fracasso. Falei de uma reunião que tinha sido absolutamente horrível, onde eu não tinha planejado direito, nem sabia o que eu tinha que saber. Me mostrei bastante vulnerável na situação. Em relação a HBS, respondi à famigerada pergunta dando vida e cor às minhas escolhas de carreira. Conversando com meus amigos sobre seus essays, o ponto em comum que vejo são como cada pessoa tem uma história especial. Ao mesmo tempo que todos falam de seus sucessos, o marcante em cada pessoa era a história que contou.

PB: Quantos brasileiros estão estudando com você?

LO: Há 15 brasileiros em HBS no meu ano. Como quase todos tem parceiros, acabamos formando um grupinho de 30. Na Kennedy, éramos 2 brasileiros apenas no meu programa no primeiro ano, mas esse número está crescendo bastante, acho que no últimos anos, contando todos os programas, são uns 12 brasileiros.

PB: O que você fazia antes do MBA? Por que você quis fazer um MBA?

LO: Sempre me preocupei em gerar impacto social, escalável e sustentável. Então, depois de cursar na graduação economia e ciências sociais, eu fui trabalhar no IFC, que é o braço financeiro do Banco Mundial. Sempre gostei de desenvolvimento internacional, mas não gostei tanto assim da parte de investimento. Então meu objetivo com MBA/MPP era descobrir mais possibilidades para se trabalhar com desenvolvimento. Esperava aprender o que tem sido feito em outros lugares e depois voltar para o Brasil.

PB: Para quem é Harvard?

LO: Harvard pode ser para todos. Por causa do método de estudos de caso, eles realmente valorizam pessoas que trazem experiência em setores diferentes. A aula depende da contribuição dos alunos. Harvard é para pessoas que tem paixão e comprometimento com alguma coisa, independente do que ela seja. O público aqui é bem diverso. Tem pessoas que fizeram aquele programa 2+2 que são super novinhos, com 23 anos de idade. Tenho um colega de 40 anos, com 3 filhos. Tem um monte de gente de Consultoria, de Private Equity, militares, etc. O ponto em comum é gostar de estudar e estar aberto a discussões, já que na metodologia de ensino deles você tem que se expor o tempo todo.

PB: E a curva forçada de notas? Cria mesmo um ambiente muito competitivo?

LO: A minha experiência é justamente o contrário. Como sua nota vai ser 1,2 ou 3 e 70% das pessoas serão “2”, não vejo tanta competição. Eu, por exemplo, sempre valorizei muito as atividades extra-curriculares, então ficava bem confortável em me manter no nível 2. E também acho justo as pessoas que se esforçam mais e que valorizam estar no quadro de honras, ter uma nota diferenciada. Na faculdade mesmo existe o discurso de que notas não importam.

PB: O que mais gosta? o que você não gostou?

LO: Perceber como meu horizonte se ampliou pessoalmente, profissionalmente e culturalmente. Conheci pessoas muito legais do mundo inteiro. Moro com uma amiga da Indonésia e outra do Zimbábue. Conheci o Haiti e a Palestina através de viagens guiadas pelos próprios alunos, tendo uma perspectiva de quem viveu lá. Fiz trabalhos de design thinkingcom refugiados na Grécia e em comunidades na África do Sul. Criei uma startup, que me levou para a Jordânia, o Líbano, Grécia e Uganda. Trabalhei com a Harvard Humanitarian Initiative ajudando organizações humanitárias a navegar os dilemas que encontram para atuar na Síria. Organizei com vários colegas o evento Brazil Conference – que deu um trabalho imenso, mas nos fez dar conta de que podíamos fazer muito mais do que imaginávamos a princípio.

PB: O que menos gostou?

LO: Me sinto reclamando de barriga cheia, pois de fato a experiência é incrível. Mas se eu fosse falar algo, acho que poderia ter mais alunos internacionais. Muitos dos ditos alunos internacionais na verdade moram nos EUA desde pequenos, então não trazem uma perspectiva tão global. Além disso, eu gostaria que houvesse mais estudos de caso globais e que esses casos fossem de assuntos positivos. Hoje, a maioria dos casos relativos à América latina e África são sobre corrupção, inflação. Ou seja, casos que reforçam estereótipos negativos.

PB: Me fale como é um dia típico.

LO: As aulas começam às 09h10. Geralmente faço umas duas por dia. Daí almoço na faculdade. À tarde, há sempre um milhão de eventos interessantes acontecendo. Geralmente vou para um palestra organizada por algum clube ou par o Ilab, que é o centro inovação onde trabalho na minha startup. Lá sempre tem mentores para ajudar com diferentes aspectos da criação de uma empresa.

Num dia ideal, depois eu vou para academia. À noite, eu jantaria com amigos e possivelmente depois ainda sairia para tomar uma cerveja com outros amigos.

PB: E estudar para os casos?

LO: Então… eu não sou um bom exemplo para isso, pois não durmo muito. Eu chegaria meia noite em casa e daí iria ler os cases para aula de amanhã. Eu valorizo muito estar com pessoas, me dedicar a projetos extracurriculares e trabalhar na minha startup, então acabo dedicando o mínimo tempo possível para ler os cases.

PB: E, no caso, qual é esse mínimo?

LO: Umas 2-3 horas/dia. Cada dia temos de 2 a 3 cases. Os cases são relativamente curtos, em geral no máximo 20 páginas, mas ainda tem perguntas para responder, que exigem um tempinho. Pessoas que se dedicam a estudar os casos mais a fundo, podem levar até 5h/dia se preparando ou mais. Daí vai do que o aluno valoriza.

PB: Você falou que abriu uma empresa durante a faculdade. Conte-nos um pouco sobre essa experiência.

LO: É incrível quantas portas se abriram durante o MBA. Eu não imaginava que isso (abrir uma empresa) ia ocorrer. Tudo começou com uma competição de casos a partir de um desafio: Melhorar a vida de um milhão de refugiados até 2022. O premio (Hult Prize) para o vencedor seria um milhão de dólares. Acabamos não ganhando mas, à medida que avançávamos de fase, a empresa passou a ganhar corpo e outras portas se abriram.

PB: O que sua empresa faz?

LO: Basicamente, nós conectamos refugiados e pessoas de países que recebem refugiados com oportunidades de trabalho digital. Há 65 milhões de pessoas em deslocamento e, destes, 85% estão em países em desenvolvimento. Estes países que, muitas vezes não dão conta própria população, sofrem uma imensa pressão e deterioração das condições trabalho quando os recebem. Esses refugiados muitas vezes são extremamente capacitados, tendo estudado nas melhores universidades de seu país, mas não conseguem se alocar. Dado que há muitos trabalhos que podem ser feitos a distância, nós criamos uma plataforma que conecta esse tipo de oportunidade com essa vasta mão de obra disponível.

PB: Qual o tipo de recurso Harvard tem para empreendedores?

LO: Há um apoio muito forte para empreendedores. Primeiro, há o Ilab, que é um centro inovação para novas empresas. Trata-se de uma incubadora, onde temos acesso a coachese mentores que ajudam com diferentes assuntos. Tem também o Rockfeller Center de empreendedorismo, onde você troca experiência com várias outras pessoas na mesma situação. Além disso, você pode participar de varias competições. Além da Hult Prize, participamos da New Venture Competition. Nessa chegamos na final, mas também não ganhamos. Estamos ficando bons em não ganhar, mas sempre vamos aprendendo no processo. Por fim, há um contato muito próximo com professores, que realmente se envolvem e te ajudam a construir sua empresa.

PB: E o que você quer fazer depois do MBA?

LO: Já mudei de ideia varias vezes. Uma alternativa é continuar tocando a startup, podendo tocar esse projeto desde a algum país na África ou Jordânia. Outra alternativa é trabalhar com direitos humanos o que, nesse caso, potencialmente faria de Genebra o meu principal destino. Considero também trabalhar em organizações multilaterais, como a ONU ou diretamente com políticas públicas. Por fim, em algum momento quero voltar para o Brasil, mas ainda não sei quando.

PB: Que mensagem final você gostaria de passar para os leitores que sonham em estar aí, onde você está?

LO: Acredite que é possível e corra atrás. Eu nunca achei que estaria aqui, mas tem lugar para todo mundo.

Enfim, acho que a principal dica para quem quer ir para Harvard (ou para qualquer outra escola) é: seja genuíno e conte sua historia. Espero que tenham gostado da entrevista com a Laura 🙂

laura oller

Laura Oller é formada em Economia e Ciências sociais, pela Fundação Getúlio Vargas e Universidade de São Paulo, respectivamente. Atualmente, ela cursa um programa duplo de mestrado em políticas públicas e MBA na Universidade de Harvard. Anteriormente, ela trabalhou na International Finance Corporation (IFC), braço para o setor privado do Banco Mundial, apoiando a estruturação de investimentos e coordenando iniciativas estratégicas para impulsar o impacto social da IFC no Brasil.

Em 2016, ela co-fundou a Dignify, uma plataforma digital que conecta refugiados e populações vulneráveis de países em desenvolvimento a tarefas digitais terceirizadas que podem ser feitas remotamente.

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